segunda-feira, 14 de março de 2011

Gata Borralheira

Outra poesia que eu fiz, também em oitava rima. Eu gosto de narrar histórias em forma de poesia.




Gata Borralheira

Ela sempre viveu escondida na poeira.
Sem grandes sonhos, sem grande ambição,
Era essa a vida da Gata Borralheira.
Pensava que sonhar não vale, não.
"Não vai se realizar por mais que se queira."
Nem feliz nem infeliz, como muitas são,
Apenas mais uma simples garota
Que queria uma vida simples, não marota.

Mas então um dia ela se atreveu a sonhar.
Soube que haveria uma grande festa,
Pôs-se a pensar enquanto usava o tear.
Como iria, uma garota tão modesta?
Sua fada madrinha veio para ajudar:
"Menina, vai dar tudo certo, ora esta!"
A Borralheira se encheu de esperança,
Olhos brilhantes tal e qual uma criança.

Pela primeira vez passou maquiagem,
Colocou um deslumbrante vestido vermelho.
Sua madrinha preparou a carruagem,
Borralheira pôs o broche de escaravelho.
Preparou-se para a longa viagem,
Não se reconheceu diante do espelho:
"Posso mesmo ser assim de verdade?"
Foi para o castelo, deixou a cidade.

No castelo, mas que grande surpresa!
Do príncipe ela foi a escolhida;
Gentil, ele a tratou como princesa.
Ela nunca imaginou isso em sua vida,
Sentou-se ao lado dele na mesa.
"Não quero perdê-la, minha querida."
Ela quase chorou de tão feliz,
Tinha agora tudo o que nunca quis.

Cada promessa, cada palavra doce,
De tudo pra sempre se lembraria.
Seria feliz, fosse como fosse,
Ao lado do príncipe que sorria.
Quanta felicidade ele lhe trouxe,
Como era boa toda essa fantasia.
"Está tarde, meu amor. Devo partir.
Mas não se preocupe, não vou fugir."

E foi aí que o conto de fadas deu errado.
Porque ela não deixou para trás o sapato.
E o príncipe jamais voltaria ao seu lado.
Ela não é princesa, foi tudo um ato.
Se contasse, ele ficaria decepcionado.
Agora ela podia ver a verdade de fato:
"Ele só quis me mudar, não quis me conhecer.
Não me amou, amou quem eu podia ser."

Não sabia que a despedida seria a última, não.
Porque a gente, ah, a gente nunca sabe.
Por mais que seja tudo uma ilusão,
A gente deseja que nunca acabe.
Mas ela sabe que nunca mais se encontrarão.
Precisa viver, ainda que seu mundo desabe.
"Posso voltar a ser eu mesma agora.
Sem máscaras, sem farsas, sem demora."

Nenhum encanto dura tempo demais.
A meia noite uma hora vai chegar,
A carruagem em abóbora se desfaz.
Por isso ele vai se desinteressar.
O príncipe desencantado não vai atrás,
Aparência é tudo com que ele vai se importar.
"Ele disse que sempre pensaria no meu bem.
É mentira, porque sei que ele não vem."

De vez em quando, ela ainda pensa;
Talvez por pouco tempo tenha sido real.
Mas isso já não faz mais diferença.
Porque não existe um sapato de cristal.
Só o que restou foi o rancor e a descrença.
Sem final feliz, sem nenhum final.
"Já chorei todas as lágrimas que tinha
Vou buscar uma felicidade só minha."

- Patricia Kawaguchi
13 de março de 2011

Um comentário:

  1. Ou show de bola seu poema, queria saber escrever assim! =D

    Eu tenho um blog de poema tb da uma passada por lá depois

    http://www.brunopullis.blogspot.com

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